Alergias alimentares acometem cerca de 5% das crianças menores de cinco anos. A proteína do leite de vaca é a principal causa de alergia alimentar em bebês e crianças.

A alergia alimentar é mais frequente em:

  • Crianças: meninos
  • Adultos: mulheres

Crianças que têm irmãos com alergia alimentar ou dermatite atópica têm risco maior de desenvolver alergia a alimentos.

Lembrando que a alergia a proteína do leite de vaca (APLV) é caracteristicamente uma alergia da infância. Adultos raramente apresentam reação alérgica a esse alimento, sendo muito mais comum alergia a frutos do mar, peixes, amendoim ou castanhas.

Por que crianças desenvolvem alergias a alimentos?

A imaturidade da barreira do intestino e do sistema imunológico na infância são fatores proeminentes da maior prevalência de alergia alimentar nessa faixa etária do que em adultos.

Esses dois fatores fazem com que o organismo entenda que a proteína do alimento é uma proteína estranha, e assim, desenvolve uma reação exacerbada contra ela, chamada de alergia.

A alergia pode se desenvolver de duas formas, que levarão a sintomas distintos:

  1. Imediatos: chamada também de IgE mediada, causa sintomas minutos a no máximo 2 horas após a exposição com alimentos
  2. Tardios: chamada também de mediada por células, causa sintomas dias após a exposição do alimento e geralmente são sintomas gastrointestinais, como diarréia com sangue e muco
  3. Mista: quando temos as duas reações acima, que é o que acontece na dermatite atópica e na esofagite eosinofílica

 

Alergia a Proteína do Leite de Vaca IgE Mediada

Nesse tipo de alergia, o organismo produz imunoglobulina E, também conhecida como IgE, que é uma das moléculas responsáveis pelos sintomas. Quando na presença da IgE, todos os sintomas serão imediatos, ou seja, aparecerão logo após a exposição/contato com o alimento.

Quais são os sintomas?

  • vermelhidão na pele, também conhecida como urticária
  • inchaço dos lábios, olhos, línguas, também conhecido como angioedema
  • tosse seca, falta de ar, estridor, rouquidão
  • coceira no nariz, olhos e garganta
  • espirros, nariz entupido, coriza
  • vômitos e menos frequentemente diarréia
  • desmaio e tontura
Alergia Alimentar - O que é? Quando suspeitar?
Urticária: lesões avermelhadas, elevadas, que coçam e somem após algumas horas e aparecem em novos locais
Alergia Alimentar - O que é? Quando suspeitar?
Angioedema: inchaço das mucosas. Pode acometer olhos, lábios, língua

O que fazer na presença dos sintomas acima?

Na suspeita de reação alérgica o mais indicado é procurar o Pronto-Socorro.

Medicações que são realizadas no quadro de alergia aguda:

  • adrenalina intra muscular
  • corticóide
  • anti-histamínico (anti-alérgico)

 

E depois? Como proceder?

Após o quadro agudo é importante confirmar o diagnóstico de alergia.

A história sugestiva é a primeira coisa que nos faz pensar em APLV: a ingestão do alimento e o aparecimento dos sintomas minutos após é altamente sugestivo de alergia.

Depois, existem exames que nos auxiliam no diagnóstico. Esses exames basicamente vão detectar a presença de IgE no organismo do paciente. Pode ser feito por exame de sangue ou teste cutâneo (chamado prick teste, saiba mais no Post).

Quando há dúvida no diagnóstico mesmo após realização dos exames laboratoriais e história clínica, é possível realizar o Teste de Provocação Oral, que consiste em ofertar leite a criança em local seguro e preparado (hospital) para caso haja reação. Esse é o exame padrão-ouro, ou seja, que confirmará 100% a presença ou ausência de alergia.

Assim, a consulta com pediatra ou especialista para confirmação do diagnóstico é fundamental.

E se confirmado APLV IgE mediada?

O tratamento vai consistir em evitar a proteína do leite de vaca, ou seja, realizar a dieta de exclusão. Lembrando que a lactose não é proteína, mas sim açúcar, e está relacionada a outro tipo de doença (confira o post sobre Intolerância a Lactose)

Se o bebê estiver em aleitamento materno exclusivo cabe a mãe realizar a dieta de exclusão. Se for um bebê com fórmula infantil existem opções, como fórmula extensamente hidrolisada, fórmula de aminoácidos ou fórmula de soja. A decisão de qual fórmula será indicada deve ser tomada em conjunto com o alergista.

Crianças que já comem alimentos, é importante lembrar de evitar também os derivados de leite: como bolos, queijos, pão de queijo, iogurtes, entre outros.

Outros tipos de tratamento

Hoje é possível realizar a dessensibilização para o leite de vaca. Mas ela é indicada para casos específicos e deve ser realizada por especialista habilitado.

E qual o prognóstico?

Cerca de 80% das crianças com alergia ao leite desenvolvem tolerância por volta dos 5 anos de vida. A tolerância significa que o organismo não reagirá mais quando em contato com a proteína do leite de vaca.

 

Alergia a Proteína do Leite de Vaca IgE NÃO Mediada e Mista

 

Diarréia crônica

É a diarréia que dura mais que 28 dias. Pode ser acompanhada de sangue e/ou muco. Acomete crianças pequenas, geralmente menores de 2 anos, que podem apresentar também ganho de peso insuficiente.

Nesse caso exames laboratoriais não ajudam muito no diagnóstico. Assim, descobrir se o leite é a causa da diarréia consiste na retirada dele da alimentação da criança. Caso for alergia, em torno de 2 a 4 semanas haverá melhora importante dos sintomas.

Dermatite Atópica

A dermatite atópica consiste em pele seca associada a pele avermelhada, com pequenas bolhas de água, coceira que podem levar a feridas. Essa lesão é conhecida como eczema. Dependendo da idade há locais específicos para o aparecimento do eczema.

Sabemos que a dermatite atópica grave, ou seja, com acometimento importante da pele e da qualidade de vida, está relacionada a alergias alimentares em 30% dos casos. Mais frequentemente a alergia é a ovo, porém ao leite também pode ocorrer.

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Bebê com Dermatite Atópica: 30% dos casos graves podem estar relacionados a alergia alimentar

Esofagite Eosinofílica

É quando temos o acúmulo de eosinófilos no esôfago, o órgão que leva os alimentos da boca até o estômago.

Os sintomas são semelhantes a doença do refluxo, porém não melhoram com o tratamento habitual:

  • dor para engolir em região torácica
  • vômitos pós alimentares
  • sensação de queimação no peito
  • dificuldade em se alimentar e irritabilidade
  • dificuldade no ganho de peso

Em crianças está relacionada a alergia alimentar e em adultos, alergia a inalantes.

Seu diagnóstico é feito através de Endoscopia com biópsia do esôfago.

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Esofagite eosinofílica: inflamação no esôfago. Em crianças pode estar relacionada a alergia alimentares

Investigação e Tratamento

A investigação deve ser feita com especialista:

  • Diarréia crônica deve ser acompanhada com gastroenterologista
  • Dermatite atópica e esofagite eosinofílica devem ser acompanhadas com alergista

Para cada doença acima há um tratamento específico além da exclusão do leite de vaca da dieta.

 

Quando não é APLV?

  • rinite alérgica ou asma isolados
  • resfriados de repetição
  • autismo
  • urticária crônica (que dura mais que 6 semanas)
  • distúrbios de comportamento
  • dermatite de fraldas

 

Considerações Importantes

Não realize dieta de exclusão do leite de vaca por conta própria!

O acompanhamento médico é importantíssimo para que o tratamento correto seja instituído e também para que não haja comprometimento do estado nutricional da criança.

Nenhum post substitui a consulta com pediatra e especialista! Assim, não deixe de acompanhar seu filho em um médico que te ajude no diagnóstico correto.

 

Foto: site Meu Pratinho Saudável 

Fonte: ASBAI / Tratado de Alergia e Imunologia 

 

4 respostas para ‘Alergia a Proteína do Leite de Vaca

    1. O diagnóstico de alergia a proteína do leite de vaca é feito através da presença de sintomas sugestivos e exames laboratoriais que corroboram os sintomas. Com a avaliação apenas do resultado de exames não é possível fechar o diagnóstico. Procure um alergista para avaliação. Att, Dra Jessica

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